Solidão e desconexão social: como manter a saúde mental na pandemia
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2020
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Várias pesquisas buscaram entender qual a relação entre saúde mental e conexão social. Os estudos mostram que um indivíduo com contatos frequentes com maior número de pessoas (por exemplo, amigos, família e colegas de trabalho) apresenta melhor saúde mental. Entretanto, pouco se sabe sobre quais são os mecanismos que relacionam a desconexão social e a solidão a condições de saúde mental como a depressão e a ansiedade.
Antes de continuar, é preciso deixar claro o que significa (e quais são as diferenças entre) desconexão social e solidão. Desconexão social pode ser definida como escassez de contato com outros. Ela pode ser indicada por fatores como uma rede de contatos pequena, interação irregular com outras pessoas e falta de participação em atividades sociais e grupos. A solidão, por outro lado, é uma experiência completamente subjetiva e está mais relacionada à qualidade das relações que temos com o outro do que à quantidade. Tal experiência pode envolver sentir-se isolado, sem suporte ou sentir-se inadequado nas relações interpessoais. Contudo, a solidão pode se manifestar completamente desvinculada da quantidade de pessoas que se conhece ou do tempo que se passa só.
Pesquisas mostram evidências de que tanto a desconexão social quanto a solidão podem contribuir negativamente para a saúde mental. Todavia, ainda não se sabia como ambas se relacionavam entre si. Foi pensando nisso que o pesquisador Ziggi Santini, da Dinamarca, junto com cientistas de outros países, realizou um estudo extenso para entender melhor essa relação.
A referida pesquisa utilizou dados de um projeto nos Estados Unidos sobre vida social, saúde e envelhecimento. Essa iniciativa acompanha participantes de todas as regiões do país nascidos entre 1920 e 1947, obtendo informações sobre saúde, solidão, relacionamento com outras pessoas (conexão social), atividades sociais, emprego/desemprego e outros dados, tais como idade, sexo, cor da pele e nível de renda. Os cientistas usaram informações desse projeto provenientes de três momentos distintos, o primeiro em 2005, o segundo em 2010 e o terceiro em 2015. Dessa forma, os pesquisadores conseguiram observar como o estado social, psicológico e de saúde dos participantes progredia de um momento para outro. Usando modelos matemáticos e estatísticos, eles foram capazes de encontrar certos caminhos que levam de um estado psicológico/emocional a outro.
Uma das descobertas foi que a solidão pode passar à desconexão social. Esta, por sua vez, pode conduzir uma pessoa à depressão ou a estados de ansiedade. O interessante é que o caminho inverso também foi observado. Ou seja, pessoas apresentando depressão ou ansiedade têm a possibilidade de desenvolverem desconexão social, levando posteriormente a um estado de solidão. Isso significa que a solidão e a depressão/ansiedade podem se autossustentar. Por exemplo, uma pessoa que sofre de solidão se afasta de suas conexões sociais e começa a sofrer de depressão. Uma vez instalada, a
depressão faz com que a pessoa se afaste de seus amigos e familiares (desconexão social), reforçando ainda mais o sentimento de solidão.
Mas por que escolhemos divulgar os resultados dessa pesquisa em uma série sobre COVID-19? Estamos vivendo uma época muito difícil, mantendo-nos em isolamento social e observando o número de mortes ao redor do mundo subir. Enquanto isso, tentamos nos adaptar ao nosso novo dia a dia, com novas rotinas de higiene e precaução, novas formas de trabalho e novos modos de contato humano. Enquanto esperamos ansiosos pela volta à normalidade, pode acontecer de nos afastarmos das pessoas com quem costumávamos conviver e isso nos levar à solidão ou à depressão. Por isso, é importante cuidarmos da saúde mental e tentarmos manter e reforçar os laços que são essenciais para nós. Que tal, então, fazer uma videochamada com quem você não fala desde o início do isolamento social? |
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263002023-08-23T17:42:45Z1[CeS] Textos de divulgação Solidão e desconexão social: como manter a saúde mental na pandemia COVID-19 Desconexão Social Solidão Isolamento Social 2020-07-20 Imagem vignette : https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/large/eed376b7651404693c46c7f6f4dc1e811716b20c.jpg Várias pesquisas buscaram entender qual a relação entre saúde mental e conexão social. Os estudos mostram que um indivíduo com contatos frequentes com maior número de pessoas (por exemplo, amigos, família e colegas de trabalho) apresenta melhor saúde mental. Entretanto, pouco se sabe sobre quais são os mecanismos que relacionam a desconexão social e a solidão a condições de saúde mental como a depressão e a ansiedade. Antes de continuar, é preciso deixar claro o que significa (e quais são as diferenças entre) desconexão social e solidão. Desconexão social pode ser definida como escassez de contato com outros. Ela pode ser indicada por fatores como uma rede de contatos pequena, interação irregular com outras pessoas e falta de participação em atividades sociais e grupos. A solidão, por outro lado, é uma experiência completamente subjetiva e está mais relacionada à qualidade das relações que temos com o outro do que à quantidade. Tal experiência pode envolver sentir-se isolado, sem suporte ou sentir-se inadequado nas relações interpessoais. Contudo, a solidão pode se manifestar completamente desvinculada da quantidade de pessoas que se conhece ou do tempo que se passa só. Pesquisas mostram evidências de que tanto a desconexão social quanto a solidão podem contribuir negativamente para a saúde mental. Todavia, ainda não se sabia como ambas se relacionavam entre si. Foi pensando nisso que o pesquisador Ziggi Santini, da Dinamarca, junto com cientistas de outros países, realizou um estudo extenso para entender melhor essa relação. A referida pesquisa utilizou dados de um projeto nos Estados Unidos sobre vida social, saúde e envelhecimento. Essa iniciativa acompanha participantes de todas as regiões do país nascidos entre 1920 e 1947, obtendo informações sobre saúde, solidão, relacionamento com outras pessoas (conexão social), atividades sociais, emprego/desemprego e outros dados, tais como idade, sexo, cor da pele e nível de renda. Os cientistas usaram informações desse projeto provenientes de três momentos distintos, o primeiro em 2005, o segundo em 2010 e o terceiro em 2015. Dessa forma, os pesquisadores conseguiram observar como o estado social, psicológico e de saúde dos participantes progredia de um momento para outro. Usando modelos matemáticos e estatísticos, eles foram capazes de encontrar certos caminhos que levam de um estado psicológico/emocional a outro. Uma das descobertas foi que a solidão pode passar à desconexão social. Esta, por sua vez, pode conduzir uma pessoa à depressão ou a estados de ansiedade. O interessante é que o caminho inverso também foi observado. Ou seja, pessoas apresentando depressão ou ansiedade têm a possibilidade de desenvolverem desconexão social, levando posteriormente a um estado de solidão. Isso significa que a solidão e a depressão/ansiedade podem se autossustentar. Por exemplo, uma pessoa que sofre de solidão se afasta de suas conexões sociais e começa a sofrer de depressão. Uma vez instalada, a depressão faz com que a pessoa se afaste de seus amigos e familiares (desconexão social), reforçando ainda mais o sentimento de solidão. Mas por que escolhemos divulgar os resultados dessa pesquisa em uma série sobre COVID-19? Estamos vivendo uma época muito difícil, mantendo-nos em isolamento social e observando o número de mortes ao redor do mundo subir. Enquanto isso, tentamos nos adaptar ao nosso novo dia a dia, com novas rotinas de higiene e precaução, novas formas de trabalho e novos modos de contato humano. Enquanto esperamos ansiosos pela volta à normalidade, pode acontecer de nos afastarmos das pessoas com quem costumávamos conviver e isso nos levar à solidão ou à depressão. Por isso, é importante cuidarmos da saúde mental e tentarmos manter e reforçar os laços que são essenciais para nós. Que tal, então, fazer uma videochamada com quem você não fala desde o início do isolamento social? Social disconnectedness, perceived isolation, and symptoms of depression and anxiety among older Americans (NSHAP): a longitudinal mediation analysis (jan/2020). 2020-07-20 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31910981/ Ciências da Saúde https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/26300 https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/eed376b7651404693c46c7f6f4dc1e811716b20c.jpg |